Rua é lugar onde os diferentes se encontram, onde a arte se
manifesta, onde lutas são construídas; rua é lugar de alegria e de festa,
mas também é lugar de dor e de morte; rua é lugar de significantes e
significados. É na rua que encontramos parte da população brasileira
que, por ter seus direitos básicos negados, lutam pela vida. Nota-se
que a cada dia a rua vem se tornando ainda mais o não-lugar dos mais
pobres, pois a rua sempre acolhe os que nela buscam recursos para
sobrevivência individual e coletiva. É nesse não-lugar que estão as
pessoas em situação de rua.
Quando falamos sobre essas pessoas não estamos falando de um
grupo homogêneo e sim de pessoas diferentes, que vão à rua por
motivos diferentes e que desenvolvem atividades diferentes. São
crianças, adolescentes, adultos e idosos, sozinhos ou em grupo, que
retornam para casa ou que dormem na rua, que desenvolvem táticas
de sobrevivência lícitas ou ilícitas. As causas e motivos do estar em
situação de rua são diversos e envolvem fenômenos políticos,
econômicos, culturais, religiosos, familiares, dentre outros. Assim, é
importante destacar que a casa nem sempre é sinônimo de lar
acolhedor e nela nem sempre há condições mínimas para a
sobrevivência. Dessa forma, a saída de casa em busca da vida na rua
rompe não só os laços familiares, mas também os laços com a fome, a
violência, a falta de afeto e a incompreensão.
Na rua pessoas se reconstroem e erguem seu mundo invisível
onde lutam pela vida e contra a morte. Sobrevivem da caridade, das
sobras e do lixo; roubam, mendigam e fazem atividades artísticas na
busca de recursos financeiros ou alimentos; lutam contra a morte
presente na comida envenenada, no fogo que as incinera enquanto
dormem, na violência gratuita que marca seus corpos, no poder de
polícia do Estado que lhes retira a humanidade e na intolerância dos
que as enxergam como “lixo urbano”. O estar em situação de rua
revela um mundo de diversidade, realidades, causas e motivos de ser
e estar na rua.