Imagine um mundo sem prisões. Infelizmente, esse é um exercício
muito difícil de ser realizado, seja hoje ou há milhares de anos. O cárcere,
enquanto instituição responsável pela guarda de indivíduos que cometeram
um crime e aguardam a punição ou lócus onde se executa a sanção penal,
perpassa a nossa história enquanto sociedade, despertando distintas paixões.
Talvez seja possível afirmar que, em diversos lugares, a prisão
enquanto modelo de punição esteja, finalmente, na berlinda, como indicam
os movimentos abolicionistas e de justiça restaurativa.1
Essa perspectiva
infelizmente parece não ter muitos adeptos no Brasil, onde assistimos, nas
últimas décadas, ao aumento das taxas de encarceramento, à superlotação
dos presídios, à violência dos massacres, à expansão dos estabelecimentos
prisionais para cidades distantes dos centros metropolitanos, às rebeliões e
ao crescimento vertiginoso do número de mulheres privadas de liberdade,
mesmo quando responsáveis pelo sustento de crianças pequenas.2
Na sua visibilidade, esses números são o reflexo da desigualdade social
que se atualiza por meio da operação do sistema de justiça criminal, o que faz
com que o perfil do sujeito privado de liberdade seja bastante homogêneo:
indivíduos pretos, residentes em áreas de periferias, que cometeram delitos.