A problemática prisional representa um dos maiores desafios a serem
enfrentados pelas políticas sociais e penitenciárias. O trabalho prisional, por
constituir-se como um ponto de convergência entre inúmeros propósitos distintos
conferidos contemporaneamente à pena de prisão, reúne, dentre outros significados,
aqueles que se direcionam para o seu entendimento como instrumento protagonista
de intervenção “transformadora” na vida dos condenados. Não obstante as
eventuais ambigüidades que a acepção do trabalho prisional enseja em suas
configurações, procuramos percebê-lo em nosso estudo como um elemento
motivador de reflexões voltadas à sua instrumentalização no enfrentamento da
vulnerabilidade social de egressos e indivíduos abarcados pela seletividade criminal.
Neste sentido, buscamos através desta Dissertação desvelamentos a partir de
sujeitos pertencentes a duas realidades regionais geograficamente opostas
subsídios capazes de nos fornecer uma análise crítica acerca dos impactos que o
trabalho prisional logra junto às perspectivas de vida dos egressos em suas
trajetórias de retorno ao convívio social. As localidades de coleta dos dados –
Instituto de Administração Penitenciária do Amapá/AP e Presídio Estadual de
Canguçu/RS – foram escolhidas no desígnio de se estabelecer contrastes
tensionadores das influências que as características sociais, econômicas e culturais
de cada região imprimem na operacionalização do trabalho prisional por parte de
seus administradores, assim como em sua receptividade junto aos apenados e
egressos do sistema carcerário. Para a persecução de tais objetivos, fundamentais
foram as contribuições sociológicas de Michel Foucault, David Garland e Gustavo
Busso acerca das transmutações referentes aos mecanismos de poder, das
relações entre o controle social e a seletividade criminal, e das noções concernentes
à vulnerabilidade social, respectivamente.