É fato conhecido que os graves problemas de saúde pública decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas não vinham merecendo no Brasil,
até o momento, uma resposta governamental efetiva, por meio de uma
política pública enérgica e abrangente. Em geral, os danos sociais e à saúde
relacionados ao álcool só encontram acolhida na saúde pública quando os
problemas já são graves, e a intervenção se torna menos eficaz. Este diagnóstico o Ministério da Saúde do atual governo já fez, e iniciou o enfrentamento
da questão, atento à sua gravidade, complexidade e à obrigatória abordagem
intersetorial.
Bastam dois exemplos para nos darmos conta da imensidade do
desafio. Primeiro, o exemplo de uma distorção: na população dos hospitais
psiquiátricos brasileiros, quase um quarto dos pacientes foram internados por
transtornos ligados ao consumo do álcool, e em torno de 40% apresentam o
consumo prejudicial de álcool como parte do quadro clínico. Sabemos que
a internação nos hospitais psiquiátricos apresenta inúmeras desvantagens
para a recuperação destes pacientes, contribuindo para sua estigmatização e
isolamento social. Entretanto, nossos hospitais gerais têm absoluta resistência
a atenderem pacientes com este tipo de problema, resultando em um impasse assistencial grave, que só agora começa a ser energicamente enfrentado
pelo SUS. Outro exemplo, este ainda mais trágico: no Brasil, os acidentes
automobilísticos com vítimas, em mais de metade dos casos, apresentam a
concomitância do uso de álcool pelo motorista. No caso dos atropelamentos, também as vítimas, em metade dos casos, usaram álcool. Poderiam
ser mencionados também os acidentes de trabalho e acidentes domésticos
relacionados ao álcool, e várias outras situações.