Durante cinco anos, publiquei na revista L’Éducateur, órgão pedagógico do nosso Instituto
Cooperativo da Escola Moderna, uma página-guia que intitulei “Dits de Mathieu”, em lembrança à rica
personalidade do camponês-poeta-filósofo, herói do meu livro L’éducation du travail.
A inspiração desses Dits encontra-se aqui resumida, no título do capítulo 1: “Uma pedagogia de bom
senso”.
Minha longa experiência dos homens simples, das crianças e dos animais persuadiu-me de que as leis
da vida são gerais, naturais e válidas para todos os seres. Foi a escolástica que complicou perigosamente o
conhecimento dessas leis, fazendo-nos crer que o comportamento dos indivíduos não obedece senão a
dados misteriosos, cuja paternidade é reivindicada por uma ciência pretensiosa, numa espécie de reduto a
que a gente do povo, inclusive os professores primários, não tem acesso.
Para confirmar a nossa experiência, temos o exultante exemplo das pessoas sensatas de todos os
tempos e de todas as raças que vão sempre muito mais longe na compreensão dinâmica dos homens do
que os mais sábios autores de sistemas e de manuais contemporâneos. Sentimos que caminham com
segurança por onde a falsa ciência só nos mostra dédalos e atalhos. Dir-se-ia que são guiadas por uma luz
ideal, a qual ilumina em profundidade os aspectos móveis da vida. Descobrem e mobilizam forças que o
engenho dos homens deveria explorar; e é por isso que a convivência com elas, através dos séculos, é
sempre um enriquecimento apaziguador para os investigadores da verdade.